quinta-feira, 22 de abril de 2010

Três mil amo-te depois


Há três mil amo-te atrás, Gaiato conheceu-a ainda menina de seus dezanove anos, sorriso inocente, frescura da juventude, apaixonou-se por suas fragilidades e pensou: creceremos juntos.
Gaiato era sonhador e prisioneiro do destino, bem intencionado mas pouco conhecedor de si próprio, perdeu a noção do amor e reinou na confusão, ela ainda menina, sempre sofrida regou o vestido de lágrimas, lágrimas essas que até hoje não secaram e ainda lhe encostam o vestido ao corpo curvilineo e bem assente.
Não colheu portanto Gaiato bom fruto do que semeou, apenas imagens que o acompanham e torturam, mas que lhe moldam como Homem. Sim, Gaiato ontem, hoje Homem passados três mil amo-te.

domingo, 4 de abril de 2010

A Terra do chão vermelho.

A porta rangeu, do outro lado surgiu uma pequena figura, um homem de monóculo

A Terra do chão vermelho

Chão de pó, vermelho. Ao fundo da rua um toldo amarelecido com letras garrafais tricoteadas, grafismo arte deco, com suas formas sinuosas lembrando um mulher ou uma planta curvilinea. A montra parecia um quadro empoeirado e os livros personificavam uma natureza morta, tudo sobre o fundo vermelho de um pano de cetim já sem brilho, onde se podia reparar onde ja haviam repousado livros pois era notório o vermelho mais vivo nessas zonas resguardadas, sabe-se lá durante quanto tempo. A porta estava iluminada por um candeeiro tosco, pendurado em cima de um poste de madeira onde também residia um velho sino. Como estava fechada toquei o velho sino e fiquei imóvel durante uns segundos e pude observar pelo vidro uma silhueta deslocando-se lenta e pesadamente em direcção a mim, compus-me e ensaiei a apresentação.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Homo-literatus

Todo e qualquer texto pode ser o tal, que assenta o devaneio e empoeira as vistas incautas com vislumbres tresloucados.
Como posso eu escrever se de facto não leio.
Serei eu maior, que as cores que maquilham o cinzentismo.
Quero aprender palavras novas.
Idiossincrasias.
Ou outra coisa qualquer.
De facto estes são dias de recolha, primeiro observo e digiro, depois... Eu sou a ideia.
Franco demais, ingénuo, iniquo de tão inócuo.
Prolifico e intenso, não me convoquem para a guerra, eu posso ganhá-la.
Eu sou suricata mascarada de ovelha com pele de lobo.
Eu sou o louco vestido de nú, calçado de homem.
Sou aquele que conhece só uma maneira de existir.
Tudo numa só palavra, ainda não reconhecida ou homologada,
talvez porque o autor ainda não teve a ideia.
Ainda estou a analisar as portas.
Na minha recolha irei encontrar a minha sapiência, ísolado no meu iniquo de tão inóquo existir ou prolifico e intenso genuino viver.