terça-feira, 27 de outubro de 2009

Diferentes entre iguais

Cheguei a Portugal em 1983 e posso dizer que foi aqui que me fiz homem. Nasci em Angola e o sangue que me irriga é naturalmente africano tal como o meu tom de pele achocolatado.
Quando entrei para a escola primária era o único menino preto na turma e naturalmente que eu próprio não percebia o porquê de ser diferente e de por vezes ser apelidado pelos meus colegas de escarumba, além do facto de estranhar o meu cabelo encaracolado e espesso diferente do liso dos meus companheiros, cheguei a ter um complexo de inferioridade em relação á minha identidade, felizmente que ao crescer compreendi quão importantes são as diferenças entre os seres humanos.
O preconceito e a xenofobia infelizmente ainda existem entre nós, estão em todo o lado embora de forma leve e por vezes dissimulada, penso que a sua existência se deva á ignorância de factos, más experiencias com pessoas de outras etnias, má compreensão dos fenómenos sociais onde incluo a imigração e a segregação e por vezes pura incapacidade de lidar com as características que nos tornam a todos especiais e únicos entre os demais.
Eu devia contar onze ou doze anos, era um menino lúcido e pacato, certo dia a minha mãe mandou-me levar uns sapatos para arranjar no sapateiro, chegado lá o médico do calçado perguntou-me a idade e depois a minha escolaridade, espantado com a minha resposta retorquiu – muito bem meu menino, aproveita, nem todos os meninos da tua cor chegam onde tu chegaste. Durante muitos anos estas palavras ecoaram na minha cabeça, não será obviamente por uma questão de cor que um homem será mais ou menos capaz, mas por outro lado existem pessoas que devido á sua condição têm menos oportunidades. Já mais velho uma vez na merceeira do meu bairro a mãe de um grande amigo, praguejava que uns indivíduos pretos haviam deixado calote na mercearia, o filho desagradado respondeu – então mãe o Mauro está aqui – ao que a sua mãe arrematou – o Mauro não é bem preto, ele é educado, bom falante, tem modos gentis. Ora não será com certeza por estes predicados que um homem é superior, aliás existem muitos pretos educados e somos todos achados iguais no que concerne a esse respeito.
Todo o homem deve assim respeitar a cultura e características dos outros, não vê-la como pólo desagregador mas antes como elo e riqueza entre os povos. Diferentes entre iguais.

Sr Campbell

Sr. Campbell tome conta da minha menina
Que está longe, perto de mim não quer ficar
Ela é linda ela é alegre, mas cuidado Sr. Campbell
Ela vai guardar dentro dela a saudade
E no coração a lembrança vaga de um menino
Alegre e triste como ela
Sr. Campbell deixe a menina brilhar
Até seu brilho o ofuscar.
Ela não é como as aves que você estuda
Pois ela voa sem asas
Porém Sr. campbell a menina precisa de seu menino
Triste e alegre como ela

Terrorismo

Sai de casa apressado, antes bebi uma grande chávena de café, encostei-me ao parapeito da janela do meu quarto e tentei sentir o ambiente que me envolvia nessa manhã. Havia uma missão a cumprir e nunca sabemos quando será a ultima. A ordem partiu de um alto comando, era necessário atingir o capitalismo na mouche, custou-me acreditar que me tivessem incumbido de tal honra, parti então para cumprir o meu destino, eles chamam-me terrorista, eu prefiro que me apelidem de soldado da verdade. Acomodei o engenho no interior da minha gabardina e segui. Chegado ao centro de decisão politica e económica aguardei pelo momento mais oportuno e no qual pudesse causar mais estragos, chegada a hora activei o meu engenho, deu-se então uma explosão de palavras saídas do meu caderno de rascunhos, os textos atingiram muita gente, que não conseguia reagir aos temas então dissecados, a destruição de dogmas foi de tal ordem que não ficou nenhum para contar o sucedido, vou seguir em frente, palavrista dogmicida continua a andar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

E se um dia encontrares o amor?

Se um dia encontrares o amor,
vais adormecer no banco de trás.
Vais beber o juizo e esquecer a sua companhia.
Trocá-lo por outros encantos.
Combinar com ele e não ir.
Vais querer te-lo longe e saudoso.
Vais espreme-lo e jorrar seu sumo.
Vais irritá-lo e ele vai embora,
sem saber a que horas volta

Dear Nobel

Caro amigo Nobel, folgo sempre em ouvir-te e desta vez não fujo á regra, estive atento ás tuas declarações e acolhia-as em mim impávido e sereno, conclui que estás cada vez mais incisivo a fazer o marketing dos teus livros, ao falar assim do livro que mais inspirou a tua carreira criaste uma onda de curiosidade em volta do teu novel rebento «CAIM», sabes eu sei a verdade que está por trás, meu caro embora não tenha lido nenhum livro teu, este eu quero comprar. A biblia! Nós já a lemos tantas vezes.