quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A mulher que se humedecia ouvindo citar poemas

Houve uma mulher, bela por sinal que poderia ter tido muito a seus pés. Era daquelas miúdas que imaginamos casadas com um ministro ou com outro qualquer incógnito de carteira recheada. Eis que um incauto romântico certo dia se amantizou com tal dama, dama que dominava a lei das palavras e as regras da sedução. Ora o nosso seduzido, seduzido pelos encantos de sereia da nossa actriz principal se viu atraído por um cenário pitoresco e eternamente desenhado pela nossa intérprete. Ela o convidara para o seu meio, mas o seu meio era um mundo de loucos em que cada louco era um apaixonado esgrimindo as suas artes para a douta donzela, que se deliciava com a batalha animalesca que seus dispersos pretendentes combatiam em prol do possível fruto que almejavam. Nosso personagem contudo não conseguiu aguentar os recitais de poemas que certo veterano pretendente citava em homenagem da, redigo, douta donzela que se sentia no centro do universo com tais palavras. Optou então nosso amigo por ir dormir e abandonar o barco de muitos marujos ou talvez barco para demasiados pretendentes a capitão.
Passados uns meses, o nosso infeliz incauto ouviu da boca de uma amante que quando ele lhe lia em voz alta ela se sentia excitada e humedecida, o que o fez recuar àquele dia passado perto da mulher que desejara, e se sentiu então feliz por ter abandonado tal barco a tempo, pois compreendeu que na altura ela simplesmente… humedecia

O Causidico

Algures num recôndito pais do médio oriente, um homem foi condenado a 365 dias de prisão por ter fornicado uma mulher casada, embora não reclame inocência o causídico diz que a pena justa seria o cumprimento de apenas um dia, pois a mesma deveria ser fraccionada pelo homem da luz, o da água, o corretor de seguros, o colega de trabalho dela, os dois melhores amigos do marido, o porteiro e mais 357 outros homens.

Padrinho á espanhola

O meu nome é Paulo, e sinto-me um patinho feio. Gosto de uma amiga faz rigorosamente sete anos, três meses, uma semana, dois dias, duas horas e trinta e três minutos. Durante todo esse tempo ela já teve seis namorados e três amizades coloridas e eu conheci-os a todos (o valor das amizades coloridas foi uma aproximação, pois como não eram relações oficiosas fiquei um pouco á nora). Estimo que já gastei 5.987 euros e 19 cêntimos em prendas (descontei coisas tais como bebidas ou gasolina nas alturas em que a levo a passear quando ela precisa de espairecer e esquecer as desilusões amorosas). Ela já me disse pelo menos doze vezes este ano e ainda vamos em Março que jamais haverá alguma coisa entre nós além de uma grande amizade. Já me masturbei com ela no meu pensamento, salvo erro cento e vinte e três ocasiões, nas outras 2mil quinhentas e noventa e sete não pensei só nela. Dez minutos foi o tempo máximo que consegui ficar sem estar apaixonado por ela, e isso foi quando a apanhei a fazer sexo anal com o namorado na minha casa da terra em cima da cama dos meus pais, por ocasião do ano novo. Uma vez ela disse que eu era o homem perfeito, e que era pena sermos tão amigos, pois ela não queria estragar as coisas. Convidou-me para ser seu padrinho de casamento. Sr. Doutor, não quererá ela com isto dizer que me quer como padrinho á espanhola?

O amigo ciumento

Gosto muito de beber uma bica enquanto fumo um cigarro e leio o jornal. Este fim de tarde depois do trabalho, um velho conhecido interrompeu o meu ritual, desesperava e praguejava, simplesmente não estava satisfeito com a forma como uma velha amiga o tratava ou talvez pela total ausência de tratamento.
- Sabes João. Eu gosto muito daquela miúda, mas ela bem podia enfiar todo o seu orgulho num sítio que eu cá sei.
- Huuuuum. - Retorqui, ai vinham lamurias.
- Achava que ela se preocupava comigo, que era aquela pessoa com quem podia partilhar as minhas apreensões da vida.
- Então e a tua miúda não serve para esses efeitos!
- Ora ai está, era aquele tipo de conversa, que se procura num elemento externo tás a ver. Passava-mos horas a conjecturar sobre atitudes, nossas e dos outros, a tecer opiniões, regra geral tendenciosas! O resto do tempo levava-o a ouvir raspanetes, pois ela condenava veementemente os meus devaneios amorosos e desventuras sociais e profissionais.
- Se calhar fartou-se de te escutar?
- Talvez! Mas eu também auscultava os seus problemas sentimentais, ás vezes também se assemelhava comigo. Sempre ás avessas com o namorado que a maior parte do tempo era ex.
- Não achas que vocês têm muito em comum?
- Já a conheço faz muitos Verões, e sinceramente em comum não temos nada. Ah, talvez a teimosia, é mulher para não torcer, não gosta de dar parte fraca, a dada altura aprendi que não valia a pena forçar divergências de opinião, deixava-a ficar com a sua razão e eu com as minhas ideias. Há uns anos deixou de me falar p’ai durante uns seis meses, e se eu gostava dela nessa altura, doeu muito mas como homem que me achava não deixei transparecer, assim o pensei, mas sabes as mulheres têm o tal do sexto instinto ou o raio que o parta, e ela andou anos a fio a zombar, pois ela sabia que eu a queria, ai sabia sabia. Grandes vacas estas gajas.
- Tu lá sabes António.
- Em adolescentes tivemos uma zanga após uma paixoneta, depois uma semi-amizade daquelas amizades colectivas tipo rebanho em que todas as ovelhas são semi-amigas ou semi-enamoradas nada é o que parece tudo é uma alegre ilusão da treta, tal como todo o rebanho sem pastor houve cisão e um afastamento entre nós, houve posteriormente uma aproximação que se vinha reforçando nos últimos meses, ao ponto de eu já dizer aos meus botões que já tinha madrinha de casamento, mas desde que tudo se normalizou lá com o seu magano (que é um ganda chibo) nunca mais me ligou patavina, só os vejo nos eventos para cima para baixo á guarda das suas sombras.
- Acho piada á tua forma de nomear e descrever as coisas, eu chamaria aos factos de ciúme.
- Achas. Ciúme tem o magano, eu cá sei bem quem sou e o que quero João e se existe coisa que prezo é a amizade. Mas tão cedo não me vê os dentes ai não vê não.