quarta-feira, 13 de agosto de 2008

O amigo ciumento

Gosto muito de beber uma bica enquanto fumo um cigarro e leio o jornal. Este fim de tarde depois do trabalho, um velho conhecido interrompeu o meu ritual, desesperava e praguejava, simplesmente não estava satisfeito com a forma como uma velha amiga o tratava ou talvez pela total ausência de tratamento.
- Sabes João. Eu gosto muito daquela miúda, mas ela bem podia enfiar todo o seu orgulho num sítio que eu cá sei.
- Huuuuum. - Retorqui, ai vinham lamurias.
- Achava que ela se preocupava comigo, que era aquela pessoa com quem podia partilhar as minhas apreensões da vida.
- Então e a tua miúda não serve para esses efeitos!
- Ora ai está, era aquele tipo de conversa, que se procura num elemento externo tás a ver. Passava-mos horas a conjecturar sobre atitudes, nossas e dos outros, a tecer opiniões, regra geral tendenciosas! O resto do tempo levava-o a ouvir raspanetes, pois ela condenava veementemente os meus devaneios amorosos e desventuras sociais e profissionais.
- Se calhar fartou-se de te escutar?
- Talvez! Mas eu também auscultava os seus problemas sentimentais, ás vezes também se assemelhava comigo. Sempre ás avessas com o namorado que a maior parte do tempo era ex.
- Não achas que vocês têm muito em comum?
- Já a conheço faz muitos Verões, e sinceramente em comum não temos nada. Ah, talvez a teimosia, é mulher para não torcer, não gosta de dar parte fraca, a dada altura aprendi que não valia a pena forçar divergências de opinião, deixava-a ficar com a sua razão e eu com as minhas ideias. Há uns anos deixou de me falar p’ai durante uns seis meses, e se eu gostava dela nessa altura, doeu muito mas como homem que me achava não deixei transparecer, assim o pensei, mas sabes as mulheres têm o tal do sexto instinto ou o raio que o parta, e ela andou anos a fio a zombar, pois ela sabia que eu a queria, ai sabia sabia. Grandes vacas estas gajas.
- Tu lá sabes António.
- Em adolescentes tivemos uma zanga após uma paixoneta, depois uma semi-amizade daquelas amizades colectivas tipo rebanho em que todas as ovelhas são semi-amigas ou semi-enamoradas nada é o que parece tudo é uma alegre ilusão da treta, tal como todo o rebanho sem pastor houve cisão e um afastamento entre nós, houve posteriormente uma aproximação que se vinha reforçando nos últimos meses, ao ponto de eu já dizer aos meus botões que já tinha madrinha de casamento, mas desde que tudo se normalizou lá com o seu magano (que é um ganda chibo) nunca mais me ligou patavina, só os vejo nos eventos para cima para baixo á guarda das suas sombras.
- Acho piada á tua forma de nomear e descrever as coisas, eu chamaria aos factos de ciúme.
- Achas. Ciúme tem o magano, eu cá sei bem quem sou e o que quero João e se existe coisa que prezo é a amizade. Mas tão cedo não me vê os dentes ai não vê não.

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